Gavin Rossdale revela estratégia que garante finais épicos em todos os shows do Bush

O vocalista do Bush, Gavin Rossdale, abriu o jogo em entrevista à 89 FM sobre a estratégia por trás do encerramento dos shows da banda. Questionado pelo nosso produtor Wendell Correia por que o grupo sempre finaliza as apresentações com “Comedown”, explicou que essa música encapsula a emoção do momento, funcionando como um agradecimento ao público.
“Quando eu canto ‘Eu não quero descer dessa nuvem, me custou todo esse tempo’, é como se resumisse tudo o que fizemos para nos manter vivos como banda. Todos os álbuns, todo o esforço, apenas para termos essa oportunidade de tocar para as pessoas. É muito poderoso.”
Rossdale acrescentou que o encerramento com “Comedown” garante um final épico e emocionante para os fãs: “Tudo leva a esse momento: ‘eu amo vocês, vocês me amam’ e acaba. Não sei como seguir a partir disso. Então tocamos o clássico e todo mundo vai para casa feliz.”
O Bush desembarca em breve no Brasil para shows no Lollapalooza em São Paulo e apresentações solo no Rio de Janeiro e Curitiba. Imperdível!
Confira a transcrição da entrevista na íntegra:
Olá, Gavin! Como está?
Estou bem, e você?
Estou bem! Sou o Wendell da 89FM no Brasil.
Obrigado por me receber.
Legal falar com você de novo. A última vez que conversamos foi em 2020, há 5 anos. O tempo voa.
Eu sei, a gente sempre tenta ir. Eu tenho muitas saudades do Brasil. São 5 anos pedindo para voltar. Feliz por estar voltando.
E falando sobre o Brasil, você já esteve aqui antes. Quais são as suas memórias do Brasil? Alguma boa história que possa contar?
Gravei um vídeo no Brasil. Toquei no Brasil. Eu amo a vitalidade, parece que todo mundo ama muito a vida. Você está no Rio de Janeiro?
São Paulo.
Ah, São Paulo. Onde fica um restaurante que gosto, quero ir de novo. Amo as pessoas, a energia. Para nós, músicos, tocar no Brasil é como ter o Natal no seu aniversário, tudo no mesmo dia e na mesma noite. Os mais legais, fervorosos, apaixonados. As pessoas adoram amar, se divertir e viver. Essa é a minha memória de São Paulo. Me falaram para não andar a noite porque é perigoso.
Há dois anos vocês lançaram a compilação “Loaded: The Greatest Hits 1994 – 2023”. Podemos esperar essas 21 músicas no Brasil?
Não. Infelizmente não teremos tanto tempo, mas temos um ótimo setlist que passa por todos os anos. Sinto que quero tocar uma nova música do novo álbum, porque já será lançado. Seria legal tocar primeiro no Brasil, apenas pela diversão. Está bem legal. Precisamos de mais tempo no palco. Estamos muito felizes de poder tocar, mal posso esperar. É um sonho virando realidade.
Você mencionou o novo álbum que será lançado. O nome será “I Beat Loneliness” e terá 10 novas músicas, certo?
Agora já são 12 músicas. Fiz algumas antes de sair em turnê e mais algumas quando voltei. Acho que serão 12 músicas. Eu sei que ninguém se importa e se preocupam com os singles. Mas eu acho que se eu gosto de um ato, de uma banda, eu quero ouvir todo o trabalho e não apenas uma música. Eu sou músico, então são 12 ideias que tive, não apenas uma. Estou empolgado para isso. Mas como disse, muitas pessoas ouvem apenas uma música da banda. Mas estou empolgado.
Como foi o processo de composição e gravação e o que os fãs podem esperar desse novo álbum?
É semelhante aos álbuns “The Art of Survival” (2022) e “The Kingdom” (2020). Bem pesado. Mas é um momento agradável de luz e então não é como angústia. Espero que a ideia sobre isso seja algo sensível à saúde mental e ao bem-estar das pessoas. Esse tipo de desafio. Porque está cada vez mais aparente o sofrimento das pessoas. A música é como se fosse uma medicina para as pessoas. É muito bom ter assunto pesados nas músicas, mas elas também carregam esperança e luz e animam. Quero que as pessoas me digam que tiveram uma boa experiência. Não é desgraça e tristeza, é sobre como podemos lutar bem essa luta, sabe?
E é um ótimo nome, porque quando eu li que o nome seria “Eu Venci a Solidão” a primeira coisa que pensei foi a música. É como eu venço a solidão, vocês salvam a minha vida todos os dias.
Sim, com certeza. A razão pela qual eu gostei desse nome é porque tem uma música que se chama assim. Qualquer pessoa que tenha um grau de melancolia no coração é normal. Às vezes você se sente bem, às vezes você sente que sabe que tem uma melancolia e é bom refletir sobre isso. Você não pode estar sorrindo como um idiota ou maníaco o tempo todo. Então a ideia de ficar solitário é algo impossível, porque você não consegue. Mas é bonito porque a ideia de estar lidando com isso é boa, tipo “estou tendo um tempo bom” e fica com essa forma de pensar. Mas é algo temporário porque depois você volta e esse sentimento fica vagando. Gosto dessa ideia por ser algo impossível.
E falando sobre as apresentações ao vivo, você tem alguma música específica que gosta de tocar?
Provavelmente algo do novo disco porque está muito novo e eu adoro o futuro. Eu adoro o futuro e não consigo evitar isso. Às vezes é difícil ser eu porque não consigo me desligar do passado, mas estou obcecado pelo futuro. Sempre tento me alongar para alcançar os dois psicologicamente, sabe? Eu alterno entre os dois, saio do passado como um apito e então vem o presente e depois o futuro. Fico nessas três zonas.
E quando você está tocando uma música, você lembra do momento que estava escrevendo e criando a música ou está apenas ali presente no momento no palco com o público?
Tenho essa filosofia de quando você faz uma música, você a entrega. Então se o público, como em São Paulo, ouve essas músicas e nos entregam de volta, fico com esse sentimento. Não consigo pensar quando escrevi. Olho os rostos das pessoas e apenas penso no que está acontecendo no momento. E tento estar presente no palco e no momento o máximo possível. Então você consegue cantar músicas sobre tudo e elas mudam de perspectiva o tempo inteiro, como roupas, que você troca todos os dias.
E em São Paulo você vai tocar em um festival, que é Lollapalooza, e em shows solos no Rio de Janeiro e Curitiba. O que os fãs podem esperar desses shows?
Estou encantado com a minha banda, eles são muito bons! Tocam demais, o visual também tá ótimo, isso todas as noites. Então estou empolgado para que os fãs possam curtir a banda. Eles ainda não ouviram o Nick (baterista), então ainda não ouviram como estamos soando agora. Somos animais ferozes. Estou empolgado e acho que isso é perceptível para as pessoas porque elas gostam de música com força. A banda é forte, então vão sentir isso.
No Lollapalooza terão outras bandas que assim como vocês fizeram sucesso nos anos 90, como vocês mesmos, Bush, Alanis Morissette, Tool e o Sepultura do Brasil. Como você vê a influência do rock dos anos 90 hoje em dia?
Mínima. Menor possível (risos). Eu acho que o interessante do rock…o hard core, gritado, tem em bandas como Bring Me The Horizon, que são muito boas. Sleep Token também, são bandas legais. Quanto mais pesado, melhor, isso que faz esse tipo de rock sobreviver, especialmente em shows. Eu gosto de fazer música pesada. É muito mais divertido. O Sepultura é o começo disso, o álbum “Roots” é como uma Bíblia do que é algo pesado. São as músicas mais legais já feitas. Gosto desse poder bruto e temos uma banda muito boa. Estou empolgado para que as pessoas vejam isso.
O Sepultura vai tocar no mesmo dia que vocês aqui no Brasil.
Ótimo!
Seria sensacional se você encontrasse o Andreas Kisser, ele é um cara muito legal.
Mal posso esperar! Vou tentar encontrá-lo.
E o que mudou para melhor e para pior na indústria musical desde quando você começou o Bush há 30 anos?
Obviamente, tem sido difícil para os artistas, especialmente os mais novos que estão começando, onde ninguém compra o trabalho e ouvem pelos streamings de graça. É muito injusto com os músicos jovens que a música seja tão difícil. Meus dois garotos são músicos, querem ser músicos profissionais. Fico feliz que não tenho esse problema pra me preocupar, de como construir sua vida e como atravessar essa parte. É muito difícil. Acho que ficou ainda mais difícil. É muito empolgante também que se você tiver uma ideia singular ou álbum ou projeto que realmente seja algo do seu coração, você consegue fazer algum barulho. Se tem qualidade, naturalmente vai achar o caminho, sabe? Acredito nisso.
Uma curiosidade que quero saber: você geralmente encerra o show com a música “Comedown”. Por que encerra com sempre com essa música?
Essa é uma boa pergunta. Estou quase parando com isso. É porque é tão completa a emoção porque aceita o sentimento desse momento do show. Quando eu canto o verso “Eu não quero descer dessa nuvem, me custou todo esse tempo” e, no caso, para voltar ao Brasil. Vem tudo o que fizemos para nos mantermos vivos como banda, todos os álbuns que gravamos, apenas para ter a oportunidade de tocar para as pessoas. Então é muito poderoso. Mas como você disse isso, digo “nunca quero deixar vocês, esse é o melhor momento de todos, muito obrigado”. Tudo leva a isso: “eu amo vocês, vocês me amam” e acaba. E é por isso, porque não sei como seguir a partir disso. Tipo, “ah, tem uma música que fala que somos mais que máquinas”, prefiro falar sobre isso antes para der sentido ao andamento do show e ter esse sentimento de “esse lugar é incrível, assim como essa noite, muito obrigado”. Toca o clássico e então vamos todos ficar felizes e cantar essa música. Acho que como aquela história do Aerosmith durante os anos 1970 em que tocavam “Dream On” primeiro e depois ficavam tão malucos que já poderiam sair do palco. Não sei, talvez eu comece com ela, mas aí não sei para onde iria depois.
Sensacional. Eu acho legal você encerrar com essa música porque aí vamos para casa felizes.
Sim, é verdade. Difícil substituir esse tipo de final.
Última coisa que quero te pedir é para deixar um convite para os seus fãs para os shows no Rio de Janeiro, Curitiba e São Paulo.
Fala aí! Venham nos ver em Curitiba, São Paulo e Rio. Estaremos aí, mal posso esperar.
Muito obrigado, Gavin! Legal falar com você de novo.
Tudo de bom!
Ansioso para te ver no Brasil.
Vamos tomar uma?
Espero que sim!
Boa, cara! Se cuida.
Obrigado, você também.
Valeu! Tchau.