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Em álbum de estreia, guitarrista Ricelly Lopez mostra ao mundo sua Música Preta Instrumental sinestésica e sofisticada

Redação 89

Em álbum de estreia, guitarrista Ricelly Lopez mostra ao mundo sua Música Preta Instrumental sinestésica e sofisticada Foto: Alice de Holanda

Um filhotinho de cachorro que não sai do pé do dono enquanto ele estuda guitarra. Um meninofoguete aprontando todas. Crianças se divertindo e dando trabalho às mães no parquinhocomunitário. O sorrisão radiante e gostoso daquela pessoa com uma energia massa. Estas e outrasimagens podem ser vistas, sentidas e, principalmente, ouvidas em Imagens, o álbum de estreia deRicelly Lopez – guitarrista, tecladista e produtor musical morador da Samambaia, cidade daperiferia de Brasília – mesmo que quase nenhuma palavra seja dita na “Música PretaInstrumental” apresentada pelo artista.

Com uma pegada AOR (Adult Oriented Rock) e fusion única e original, o instrumentista mistura omelhor dos mundos em sete faixas paisagísticas, indo do ijexá ao rock progressivo, do R&B aopop californiano, da MPB ao metal farofa, de forma natural e homogênea, criando um estilo únicoe cheio de identidade. Longe dos cacoetes espalhafatosos que se esperariam de um “disco deguitarrista”, em que a demonstração de virtuosismo muitas vezes ofusca a música, o trabalhoapresenta um equilíbrio perfeito entre todos os instrumentos, timbres e texturas, em que a guitarrabrilha, sim, muitas vezes, mas sempre a serviço da canção, sempre deitada sobre a cama muitobem feita pelo piano.

Muito disso se deve à troca intensa e generosa com os demais músicos do disco – Luís Porto eEsdras Dantas no baixo, Mateus Nygrom e Jhonata Pikeno na bateria e Felipe Fiúza na percussão– e o produtor Ricardo Mendes que assina também a bateria eletrônica, o violão de 12 cordas e omellotron. O processo intenso de intercâmbios conceituais, criativos e de produção com Ricardo ecolaboração engajada dos músicos do disco deram a forma final à ideias artísticas de Ricelly,acalentadas por anos. O resultado é um disco em que técnica e liberdade criativa se aliam paracriar uma conexão com o ouvinte.

Tudo começou quando, certa vez, assistiu a um workshop sobre harmonia com Jesiel Candeia,grande guitarrista e professor que tinha o dom de tornar palatáveis e compreensíveis certos temasmusicais complicados, chatos e espinhosos. Para explicar o que eram os “modos” na teoriamusical, ele fez uma analogia com diferentes sensações corporais e emocionais experimentadas nachuva: o pé na areia molhada, um banho de lama causado por um ônibus imprudente, etc. O quedeveria ser uma simples metodologia didática se tornou uma obsessão durante a formação musicalde Ricelly e seu método criativo. “Houve uma explosão na minha cabeça, de que a gente conseguefazer essa analogia entre os sons e as demais coisas que a gente pode sentir. Comecei a fazer essasobservações e daí foram surgindo ideias musicais”, explica o compositor, sobre o que poderíamoschamar, com alguma licença poética, de sinestesia musical.

Assim surgiram músicas como Áurea, a partir de uma melodia que ele “ouviu na cabeça”, comocostuma dizer, e o remeteu ao sorriso contagiante de alguém que estava muito feliz e ficoumarcado na lembrança; Ventos, composta em um dia em que ele estava apenas tentando “ouviralguma coisa” e começou a improvisar ao som de uma brisa muito especial e específica quecirculava pela casa em que ele morava; Song for Bob, que fez para seu cachorrinho que, desdefilhote, ficava no pé dele sempre que ele estava tocando guitarra, e especialente enquanto elecompunha essa música; Rocket boy, a partir de um riff muito antigo e subutilizado, imaginandouma “criança doida, foguete, menino foguete, lombra”, e que ele fez para “afagar sua criançainterior”; Reflexões, baseada na observação dos próprios pensamentos malucos; Luzes daquebrada, cujo título é autoexplicativo; ou Imagens, que dá nome ao disco, baseada na singelaimagem de crianças brincando e correndo enlouquecidamente no parquinho da quadra. Cenas,pensamentos, sensações, vivências e emoções do cotidiano de um artista preto da periferia virammatéria-prima para as músicas de Ricelly, que agora podem ser compartilhadas com todo o público.

Ricelly Lopez começou sua trajetória musical aos 13 anos de idade, estudando de formaautodidata, e colaborou com diversas bandas, projetos e gigs da cidade, seja como músico deapoio, integrante ou produtor, com especial destaque para Haynna e os Verdes, Dani Silva, Saraní,Dya Valdezs e Jack Gôd. Ex-estudante da escola de música, abandonou o curso, corajosamente,para se dedicar ao disco, e agora dá um importante passo na carreira defendendo suas própriasmúsicas neste álbum.



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