Conversamos com Courtney Barnett, que prepara disco novo

A compositora e multi-instrumentista australiana Courtney Barnett prepara o lançamento de seu novo álbum Things Take Time, Take para o dia 12 de novembro.

Ao longo de apenas alguns anos, Barnett tornou-se internacionalmente famosa pelo seu distinto e aclamado léxico musical. Ela já tocou nos palcos mais icônicos e reverenciados de diversos festivais e trabalhou com nomes como Jack White, The Breeders e Jen Cloher.

Numa entrevista exclusiva para a 89 FM, Courtney deu detalhes das faixas que integrarão seu novo trabalho, seus planos de turnê e ainda falou algumas curiosidades da carreira.

Confira no player abaixo:

Transcrição da entrevista

Como você está, Courtney?

Estou bem, obrigada! E você, como tá?

Também estou bem, obrigado! E como tem sido esses anos malucos para você?

Tem sido muito louco. Pessoalmente, acho que bem sossegado para mim. Eu estava em Melbourne e ficamos no lockdown por por muito tempo, então fiquei em casa, sossegada.

Acabei de ouvir o seu novo álbum, está maravilhoso. Parabéns!

Muito obrigada!

Como foi o processo de composição e gravação desse novo álbum?

Foi um processo muito divertido. Eu compus a maior parte com o violão e uma bateria eletrônica em casa. E a gravação foi curta. Só podíamos usar a parte de trás de um estúdio e fiz o álbum com a Stella Mozgawa, que ajudou na produção. Nós duas tocamos todos os instrumentos. Teve muita inspiração nesse processo.

Eu conheci a Stella quando ela veio com o Warpaint no Brasil. Ela é ótima!

Sim, ela é uma música e uma baterista incrível!

Ela também tocou bateria nesse novo álbum?

Sim. Nós duas tocamos todos os instrumentos, então ela tocou todas as baterias e drum machine, e muito dos sintetizadores e teclados, além do baixo. Nós duas tocamos baixo em diferentes músicas do disco.

Você sempre compõe as músicas com um violão?

A maioria, sim. Nem sempre, porque às vezes uso a guitarra ou piano. Mas no flat que estava morando, eu só tinha um violão. Então foi a melhor forma de compor. Eu me sentava na minha janela, olhava as pessoas e escrevia as músicas.

Foi o que te inspirou para compor a música “Rae Street”, certo?

Correto!

E como era ficar olhando o que acontecia na rua?

Não acontecia nada incrível. Eram apenas as pessoas vivendo o dia a dia. Acho que a vida é assim na maior parte do tempo. Acho que muito do álbum e das minhas composições no geral é achar esses pequenos momentos que são lindos, especiais e estranhos e focar nisso.

Tem um verso muito bom nessa música que é “Tempo é dinheiro e o dinheiro não é amigo do homem”. Você lembra qual foi a inspiração para escrever esse verso?

Sim! Eu lembro que é uma frase que meu pai falava quando éramos crianças. Quando estávamos indo para algum lugar e ele estava com pressa e nós estávamos devagar, ele dizia: “Tempo é dinheiro e o dinheiro não é amigo do homem”. Isso ficou na minha memória e era engraçado quando eu era criança. E agora que cresci, acho essa frase interessante.

E na introdução da música “Rae Street”, os primeiros segundos de bateria me lembram a música “In The Air Tonight” do Phil Collins. Foi uma influência ou é algo da minha cabeça?

Sim, verdade! Talvez seja. A Stella fez toda a parte de percussão e bateria, mas deixamos muito o que fiz nas “drum machines” no álbum porque eu usei na composição. Acho que os primeiros segundos da música foram feitos com a “drum machine” que tenho.

E o clipe da música é muito legal. Você se diverte gravando os vídeos?

Sim, o vídeo fez o processo de gravação ser divertido. Gravar pode ser algo estressante e tudo mais, mas é legal ver as ideias que os diretores trazem para trazer vida para uma música e mostrar esse lado visual. Eu sempre fico impressionada porque as pessoas que fazem filmes são muito talentosas.

E tem muita paciência.

Sim, totalmente.

Falando sobre o álbum inteiro, as músicas falam sobre términos de relacionamentos…essa foi a minha interpretação, não sei se concorda comigo. Fala sobre terminar e aceitar isso de uma maneira saudável, se recuperar e seguir em frente. É sobre terminar um relacionamento e seguir em frente. Estou certo?

Mais ou menos…eu amo quando…Eu gosto que as pessoas interpretem da própria forma. Não quero dizer para as pessoas sobre o que é ou não o álbum. Acho que fala sobre amizades, relacionamentos, vida, morte e as coisas mudando conforme o tempo vai passando. Muitas coisas que acho que acontece com todo mundo.

É muito legal que na primeira faixa “Rae Street” você canta “Estou esperando para o dia virar noite” e na última faixa “Oh The Night” você canta “A noite passa muito devagar”.

Sim!

Você prefere a noite?

Acho que me tornei uma pessoa da manhã. Fico cansada mais cedo agora e aí vou pra cama. Mas eu amo acordar de manhã, tomar café e ver o Sol nascer. Passar o dia fazendo coisas divertidas.

Você acorda muito cedo?

Sim.

Foi você que pintou a arte da capa do álbum?

Sim, fui eu que pintei a capa do álbum.

E por que os tons diferentes de azul?

Estava pintando muito no ano passado, mais do que normalmente, ia além do que só um desenho. E um amigo me emprestou um conjunto de aquarelas e achei que transmitia uma paz muito grande para a pintura. E sobre o azul, achei que a cor acalma muito.

É uma cor legal mesmo, também gosto de azul. E você tem uma faixa favorita nesse álbum?

Isso é difícil. Eu realmente amei “Before You Gotta Go” mas acho que uma das minhas faixas favoritas é a “Turning Green”, que ainda não foi lançada. Acho que foi uma das minhas favoritas para gravar e acompanhar o processo de evolução da música.

“Turning Green” também é uma das minhas favoritas.

Legal! Boa escolha.

A música “Before You Gotta Go” também tem um vídeo sensacional. Você fica gravando sons da natureza. É algo que você faz mesmo?

Sim! Na verdade, eu comecei a fazer mais isso no começo desse ano. Estava passando mais tempo na natureza, no deserto, no campo. Fiz isso algumas vezes ao longo dos anos, mas fiz com mais frequência quando estava fazendo esse álbum.

A outra música que tem clipe é a “Write a List of Things to Look Forward To”. O vídeo foi inspirado na letra, certo?

Sim! O vídeo foi inspirado em como estava a minha vida no ano passado. Os amigos mandavam presentes e mensagens, mantinha essa forma de contato com eles.

Quando você está compondo, o que escreve primeiro: a letra ou a melodia da música?

As duas formas, sempre muda. Não tenho apenas um único jeito de compor. É sempre diferente. Apenas sigo e acredito no meu instinto e vejo o que acontece.

Você é canhota. Foi difícil para você aprender a tocar instrumentos sendo canhota?

Sim, um pouco. Eu pegava emprestado as guitarras antes de ter a minha e eram sempre para destros. Então aprendi a tocar com as cordas invertidas até finalmente eu ter a minha guitarra. Aí um amigo a regulou para eu tocar como canhota. Foi um obstáculo no começo, mas não tão grande assim.

Quantos instrumentos você toca? Guitarra, piano…

Com certeza eu sou melhor com a guitarra. Mas consigo tocar um pouco de piano, baixo, bateria…esses mais ou menos.

Você também não usa palhetas para tocar guitarra. É algo que eu sempre admiro. Tem você e o Mark Knopfler. Eu fico: “Como essas pessoas não usam palhetas?”. Algum motivo específico para não usar palhetas?

Eu já comecei sem usar palhetas. Acho que não gostava. A gente sempre perde palhetas. Muito complicado.

A guitarra ficava com muito sangue quando você estava aprendendo a tocar?

Sim, elas têm ficado dessa forma ao longo dos anos e nas turnês. Eu meio que rasguei um pouco as minhas mãos, sim.

Sei como é. E você tem uma guitarra favorita? É a sua Jaguar?

Sim, eu amo a Jaguar. Eu já estou usando há um tempo e sempre é possível fazer tudo que eu quero com ela.

E quem é o seu “guitar hero”? Aquele guitarrista que te inspirou para tocar guitarra?

Provavelmente o Jimi Hendrix quando eu era criança.

Outro canhoto. E você também é fã do Kurt Cobain, certo?

Sim, são os meus dois “guitar heroes”.

Então você realmente tinha que tocar como canhota.

Sim, exatamente!

Falando sobre o Brasil, você já esteve aqui. O que você lembra do nosso país?

Lembro quão divertido foram os shows e como as pessoas foram encantadoras. É muito legal tocar no Brasil e estou ansiosa para voltar.

Eu lembro da primeira vez que ouvi as suas músicas, acho que foi em 2014. E fiquei conversando com um amigo da Rádio Rock, que seu som nos lembrava muito o som das bandas de Seattle dos Anos 90, que ficaram conhecidas como “Grunge”. Eles são a sua principal influência?

Não exatamente. Claro que é uma influência, mas acho que tem muitas coisas diferentes na música que me influenciam. Muitos compositores diferentes, estilos diferentes, acho que tudo isso se mistura, mudando constantemente e evoluindo.

E sobre o futuro: você vai lançar o novo álbum e vai sair em turnê?

Sim, vou começar a turnê nos Estados Unidos em algumas semanas e provavelmente vou ficar em turnê por um ou dois anos. Espero que eu vá para o Brasil.

É o que a gente espera também. Ano que vem teremos grandes shows novamente.

Sim.

Todas as músicas que você fez estão no novo álbum ou alguma ficou de fora?

Algumas músicas não estão no álbum. Elas não foram finalizadas, então tem algumas músicas que por aí que posso voltar a trabalhar.

Você costuma compor muito novas músicas?

Sim, sempre estou trabalhando em alguma coisa.

Muito obrigado, Courtney! Foi um prazer falar com você.

Legal! Adorei a conversa com você.

Ansioso para te ver novamente no Brasil.

Sim!

Obrigado! Tchau!

Redação 89: