Eagle Eye Cherry antecipa detalhes de novo disco em papo com a 89 FM

Redação 89

Eagle Eye Cherry antecipa detalhes de novo disco em papo com a 89 FM Foto: Viktor Flume

Eagle Eye Cherry está preparando o seu sexto álbum de estúdio, que será lançado no começo do ano que vem. Numa entrevista exclusiva com a 89 ele revelou que a ideia é ter um disco pronto para colocar no mercado em fevereiro ou março de 2022.

“Não temos uma data exata. Eu ainda tenho que gravar algumas coisas. Então vou fazer isso no final de setembro”, disse ele em papo com nosso apresentador/produtor Wendell Correia.

Cherry comentou que pretende fazer uma turnê quando for lançar esse trabalho. Mesmo com a questão da pandemia sendo uma incógnita neste momento, o músico revelou que gostaria de passar por aqui. “O Brasil é meu favorito para tocar e isso porque a música faz parte de tudo para os brasileiros”, destacou.

Ele ainda falou um pouco mais sobre sua paixão pelo Brasil, contou histórias de sua primeira passagem por aqui no Free Jazz Festival e ainda pediu dicas e artistas brasileiros para ouvir. Confira a entrevista na íntegra utilizando o player abaixo:

Transcrição da entrevista aqui:

Olá, Eagle! Tudo bem?

Estou bem! E você, como está?

Estou bem! Muito legal falar com você. É um prazer.

Legal. Vi que você tem um violão aí atrás. Você toca?

Eu toco. Uma das primeiras músicas que eu aprendi a tocar…e isso é verdade, não é só porque estou falando com você, foi “Save Tonight” e “Falling In Love”.

Quatro acordes. É tudo o que precisa.

E “Falling In Love” são três acordes.

Exatamente! Legal.

Eu aprendi algumas músicas dos Red Hot Chili Peppers e aí aprendi as suas.

Coisas boas.

E qual foi a primeira música que você aprendeu a tocar no violão?

Essa é uma pergunta interessante porque a razão de só ter quatro acordes em “Save Tonight” foi porque eu estava aprendendo a tocar violão. O violão foi a chave para eu encontrar meu som quando eu estava compondo minhas músicas e assinando um contrato com uma gravadora. Eu não sabia exatamente o que eu iria fazer porque eu escutava muitos estilos musicais diferentes. E quando me mudei de Nova Iorque comecei a passar um tempo aqui onde estou agora, que é em Estocolmo. Comprei um apartamento de alguns conhecidos e eles tinham um violão igual a esse atrás de você e eu não sabia tocar muito bem. Fiz uma programação de bateria no teclado. Eu era um baterista na verdade. E aí peguei o violão e criei a música “Comatose”, que está no meu primeiro álbum. Aprendi a tocar, fiz um sample em cima disso em looping.

Então, em cima disso, comecei a ouvir que estava tocando no violão todas as outras coisas que tinha feito anteriormente e essa é, basicamente, a resposta para a sua pergunta. “Comatose” foi a primeira música que aprendi a tocar no violão. Minha própria música, que fiz naquele dia.

Sensacional! Você tem algum grande ídolo na guitarra?

Essa é uma pergunta complicada…nos anos 1980, quando eu era jovem eu não estava realmente ouvindo as músicas que estavam sendo lançadas no mundo do rock. Mas eu estava mais ouvindo Jimi Hendrix. Então ele é uma das minhas influências. Mas naquela época eu não curtia muito os cabelos dos roqueiros, como os caras do Mötley Crüe, Bon Jovi e outras bandas assim. Mas tinha algo no Van Halen que eu gostava, mesmo eu não curtindo esse tipo de música na época. Eu adorava o jeito que o Eddie Van Halen tocava. E parecia que a banda estava se divertindo. Então acabei me tornando um fã do Van Halen mesmo não sendo o tipo de música que gostava. E agora que ele morreu, eu fiquei assistindo bastante vídeos do Van Halen no YouTube, como workshops e como ele tocava e achei sensacional. É um guitarrista espetacular.

Você teve a oportunidade de ver ele tocando ao vivo?

Não. Não era tão fã assim a ponto de ir a um show. E me sinto bem quanto a isso. Teria que ser na época do começo da trajetória do David Lee Roth e eu era muito novo. Tem muitas bandas que eu gostaria de ver na época e depois consegui. Mas ainda não consegui perdoar meus pais por não ter me levado a um show do Bob Marley and The Wailers. Eu teria que ficar nos ombros do meu pai, mesmo assim queria ter ido. Eu era uma criança pequena, mas é uma das coisas que sinto que a vibe daqueles shows eram maravilhosas.

Imagino…ele é sensacional. E temos vivido anos malucos com essa pandemia. Como você está? Está bem?

Estou saudável. Eu não peguei o corona e agora estou com as minhas duas doses da vacina. Então eu sinto que estou mais livre. Peguei meu primeiro avião outro dia e foi muito estranho. Então esse é o lado bom disso. Eu tinha acabado de finalizar minha turnê antes que a pandemia paralisasse tudo. Terminei meu último álbum e os últimos shows foram no Brasil. Então fui para casa em 2020 e pensei: “Beleza, deixa eu ir para o estúdio, gravar músicas novas e voltar a viajar em turnê”. Nós gravamos algumas coisas novas, mas não pudemos voltar a viajar. E tem sido um ano muito estranho. Ver o mundo todo parar é maluco, ainda mais com tantas pessoas morrendo. Então tem sido tempos estranhos. Ficamos pensando que não iria durar tanto tempo e ainda não acabou de vez. É maluco.

E a gente espera que ano que vem esteja tudo bem para todo mundo.

Sim!

Estava olhando seu Instagram. Você fez um show ao vivo ontem?

Sim! Fizemos algo para um canal de televisão da Suécia, então tocamos apenas duas músicas. Mas tive a oportunidade de ver a minha banda. Não nos víamos há muito tempo, até porque muitos deles não moram em Estocolmo. Então foi legal encontrá-los e ainda tocarmos juntos. E estamos morrendo de vontade de voltar a fazer turnê.

E tinha público para ver vocês tocando?

Sim. Foi um show bem ao estilo sueco, que costumamos fazer nos verões. Geralmente são com aglomerações, mas agora as pessoas estavam sentadas e separadas uma das outras. Mas ainda assim era um público, conseguia olhar nos olhos deles. Então foi legal tocar. Mas geralmente isso é frustrante, porque só tocamos duas músicas e queríamos tocar mais. Então a melhor parte foi ver a banda.

Quando você aqueceu depois de tocar as duas músicas, teve que parar, né?

É um jogo difícil fazer esses shows para a TV porque são três minutos e meio. Quando você toca em um show, você pode criar um groove, pode errar, e isso não importa. Mas no caso esses três minutos tem que ser perfeitos.

E o que você mais sente falta das turnês?

Do público. Para mim, tocar ao vivo é onde tudo faz sentido. Você pode compor, gravar, promover a música, mas quando eu subo no palco e a galera está lá, você consegue sentir a vibe. E isso é tudo que faz sentido para mim. Eu tenho amigos que são produtores ou algo do tipo, que ficam em estúdios o tempo todo e eles amam isso. Mas eu nunca poderia viver assim. Para mim tudo faz sentido quando você faz uma música para depois poder tocar ao vivo.

O público brasileiro realmente é diferente ou isso é apenas algo que todos falam?

Não, todos os países são diferentes. O Brasil é meu favorito para tocar e isso porque a música faz parte de tudo para os brasileiros. É o mesmo que respirar no Brasil. Você pode sentir isso do público também. Alguns países podem não ser tão bons assim. Eu gosto de ir a shows e estar na galera porque para mim o público é uma parte muito importante para fazer um bom show. Eles se entregam para a banda e a banda retorna essa entrega. Um bom público faz o show ser bom. A banda pode estar tocando muito, mas o público pode não estar respondendo de volta isso. E os brasileiros sabem como fazer isso, como criar a vibe certa.

Falando sobre o novo álbum que você está trabalhando: quando será lançado?

Não temos uma data exata. Eu ainda tenho que gravar algumas coisas. Então vou fazer isso no final de setembro. Eu quero poder fazer turnê quando for lançar o álbum. Então o plano é lançar no começo do ano que vem. Algo como fevereiro ou março de 2022. Mas o mundo é uma grande incógnita no momento. Mas pretendemos manter assim.

Você ainda está trabalhando e gravando músicas novas?

Não exatamente neste momento. Agora é mais divulgação. Por causa da pandemia, não tive outra coisa para fazer. Tenho um estúdio no jardim do apartamento que estou morando, então fico ali compondo coisas bem legais. E o interessante é que quando eu gravei a música “I Like It”, eu queria capturar a energia que temos quando estamos tocando ao vivo. Então quero pegar a banda para gravar essas novas músicas para ter essa energia, como teve em “I Like It”. Então meu plano é fazer um álbum que tenha essa energia e tenho escrito várias coisas diferentes, então não tenho certeza de como vai ser o álbum. Vamos ver.

A música “I Like It” é muito boa, está indo bem na rádio, os ouvintes estão curtindo. O que essa música significa para você?

Quando eu escrevi “I Like It” eu basicamente estava pensando quando eu tive meu primeiro apartamento. Era muito novo e fui morar no Brooklyn em Nova Iorque. A vida era uma grande festa. Todas as noites eu curtia com os meus amigos, estávamos vivendo os melhores momentos possíveis na melhor cidade do mundo. E aí você acordava várias vezes se sentindo horrível. Tudo o que queria fazer era voltar para essa época e ver meus amigos e foi isso que eu estava pensando quando escrevi a música. O interessante é que agora, quando lancei a música e revisitei essa época eu percebi que isso é o que todo mundo quer fazer no momento: sair, encontrar os amigos e fazer uma festa. E não estamos podendo fazer isso. Então essa música é um hino sobre curtir e ficar maluco.

E é isso que mostra no clipe da música também.

Exatamente! Eu queria estar num ônibus de turnê porque sinto muita falta disso. “Vamos ter um ônibus e fazer uma festa”. Pelo menos por um dia, pude sentir que estava na estrada.

A impressão que passa é que você realmente estava se divertindo gravando o clipe.

E pude dirigir o ônibus! Nunca tinha dirigido um ônibus. Foi legal. E também queríamos ter um contraste disso, que foi a sessão de terapia como algo cinza e escuro para fazer as cenas de festa parecem ainda melhores. Com esse contraste, você realmente consegue perceber o quão legal é a festa. Se só tivessem as cenas de festa, não seria tão legal. Então foi algo como “quente e frio”, “doce e azedo”.

Quando você está compondo, você escreve a letra da música antes da melodia?

Tudo acontece meio que ao mesmo tempo. Essa música eu escrevi com dois amigos. Então geralmente começamos com um riff ou uma ideia de melodia. Eu não costumo escrever primeiro a letra, como o Bob Dylan faz. Escrevi algumas músicas assim, mas foram poucas. Geralmente gosto de ter primeiro a melodia para ter uma vibe e começar disso. É por isso que eu acho que a língua inglesa é ótima, porque eu falo sueco, mas eu nunca escrevo músicas em sueco. Em inglês você pode dizer o que sente em várias formas diferentes. Então uma vez que você tem a melodia, é só “colocar as cores” com o que quer falar.

Aprendeu alguma coisa em português?

Ainda não. Só “tudo bem” e coisas assim.

“Obrigado” também, né? Isso é legal porque você tem uma relação boa com o Brasil e até gravou um vídeo para a música “Down and Out” em São Paulo. Como foi gravar esse clipe? O que visitou foram as partes da cidade que é referência para muita gente aqui. Você passou pelas melhores avenidas.

Exatamente. Foi legal! Foi bom conhecer a cidade. E queria capturar São Paulo. Queria realmente estar no Brasil. É um dos meus países favoritos. Nessa oportunidade, fiquei em São Paulo muito mais tempo do que costumo ficar. Cheguei uns dez dias antes dos shows para promovê-los. Então tive alguns dias de folga, e quis aproveitar para gravar um clipe. O Nando (amigo brasileiro e assessor de

imprensa) gostou muito da música “Down and Out” e achou que os brasileiros também fossem gostar, então fizemos.

E quais foram as suas impressões sobre São Paulo?

Foi legal passar um tempo em São Paulo porque nas vezes anteriores eu estive na cidade apenas para divulgar os shows. Então, basicamente só vi a cidade pela janela do carro enquanto ia de um lugar a outro. E o Rio de Janeiro é o Rio, é a cidade que vemos e falamos “Olha, esse é o Brasil”. Mas eu fiquei curioso porque eu sei que São Paulo é onde estão acontecendo as principais cenas musicais e várias outras coisas, e tive tempo de conhecer dessa vez. E muitas comidas boas também. Então fiquei com um sentimento melhor pela cidade porque antes para mim era apenas uma massa gigante de concreto. Foi ótimo ir a alguns clubes e ouvir música. É como Nova Iorque costumava ser. Agora Nova Iorque está muito limpa e perfeita, não é mais a cidade que era quando eu estava morando lá. Então senti que São Paulo tem mais essa vibe.

Não vou te perguntar se você prefere o Rio de Janeiro ou São Paulo porque não quero colocar você nessa situação. Temos essa discussão aqui no Brasil.

Eu iria preferir o Brasil se hoje eu tivesse que mudar para outro lugar e uma das opções fosse o Brasil. Normalmente, porque primeiro vocês precisariam se livrar do presidente. Essa é uma das razões pelas quais também não estou morando nos Estados Unidos. Em termos políticos, não curto o que está acontecendo nos Estados Unidos. Se tornou um país muito polarizado. É um país onde eu acho que as pessoas deveriam se unir, mas só estão se afastando cada vez mais. Mas eu tenho uma relação especial com Nova Iorque porque eu morei muito tempo lá, então eu ainda volto muito. Mas todas as vezes que vou para lá, sinto que amo o lugar, mas não quero criar meus filhos nesse ambiente.

E o que você mais gosta do Brasil?

A música e a comida. E, claro, fazer shows. Eu adoro a comida brasileira. É difícil de encontrar esse tipo de comida onde eu moro. Então é ir ouvir as bandas, curtir música e comer.

Alguma história engraçada que aconteceu no Brasil que você possa contar para nós?

Tenho algumas. Uma foi quando tocamos em um festival e acredito que era a minha primeira vez no Brasil. O festival chamava Free Jazz Festival. Foi há muito tempo e também tinham as bandas The Roots e o Finley Quaye.

Foi em 1999, né?

Acho que é isso mesmo. E o Finley Quaye estava curtindo muito. Eu o vi dormindo na praia em uma manhã. E pensei: “Aquele é o Finley Quaye?”. Estava capotado na praia. Ele estava curtindo pesado. E aí tinham duas noites e dois shows. Um era em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, não lembro a ordem. Na primeira noite, acho que ele acendeu um do palco. E estava ao vivo na MTV, então eles estavam nervosos que ele pudesse fazer algo assim de novo então perguntaram se eu poderia tocar antes do Finley Quaye e aí ele tocaria por último, porque aí qualquer coisa eles poderiam cortar a transmissão. Eu disse que tudo bem. É uma história longa, mas acho que dá tempo de contar. O show atrasou muito, então quando estávamos tocando, era para o Finley Quaye estar tocando. Quando ele chegou, a banda The Roots ainda estava tocando. E depois ainda teríamos nós e só depois ele tocaria. Então ele ficou frustrado porque os shows estavam muito atrasados. Estou vendo o show do The Roots e olho o Finley Quaye entrando no palco e apontando para o relógio falando para eles saírem do palco e terminou de atravessar o palco. Vou correndo contar para a banda: “Vocês não vão acreditar o que aconteceu! Finley Quaye entrou no palco e mandou o The Roots parar de tocar!”. E enquanto estou contando para a banda, The Roots para de tocar e queriam bater nele. E aí eu escuto as pessoas gritando e procurando os seguranças para tentar pará-lo e eu não conseguia acreditar que ele fez isso. Deve ter sido horrível para ele. Nessa mesma viagem eles me surpreenderam quando um programa de TV onde eu estava sendo entrevistado e eles trouxeram um dos

melhores amigos do meu pai, que é o músico Nana Vasconcelos, que era como um tio para mim. E isso me surpreendeu. Eu não fazia ideia. Então esse também foi um momento especial. Foi legal encontrar o Nana do nada.

Sensacional. E o que mais você ouve de música brasileira?

Preciso me atualizar. No momento, não estou ouvindo música brasileira. Tenho ouvido Lil Nas X, Olivia Rodrigo, Phoebe Bridgers. Me fala algumas bandas brasileiras que eu deveria ouvir.

Você conhece alguma banda de rock brasileira?

Me diga você algumas.

Mutantes. Deveria ouvir o som deles. Tem uma banda que eu gosto muito, chamada Titãs. Começaram nos anos 1980. E outra, o Skank. Eles também têm uma música com o Santana.

OK!

Acho que essas três bandas você precisa conhecer, mas elas são mais para o rock. Temos aqui o que chamamos de MPB que também tem coisas muito boas, Forró…Luiz Gonzaga…são muito bons.

Muito obrigado! Foi um prazer conversar com você. Gostaria de ter mais tempo. Espero poder conhecê-lo pessoalmente da próxima vez. Quando você visitou a Rádio Rock, eu não estava lá.



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