Teatro: “Inferno – Um Interlúdio Expressionista”

Baseada no texto “Not About Nightingales” do dramaturgo norte-americano Tennessee Williams, a cia. Triptal em seu projeto Homens à Deriva faz seu interlúdio no Teatro João Caetano em São Paulo, com direção de André Garolli e grande elenco.

A montagem retrata a atrocidade que realmente ocorreu em uma prisão em Holmesburg, Pennsylvania, em 1938. Um grupo de 25 presos realizou uma greve de fome e como punição foi trancado em uma cela fechada com vapor aquecido. Quatro deles morreram assados, e quando a notícia da brutalidade foi disseminada por meio dos jornais, a opinião pública americana ficou indignada.

“Essa dramaturgia tem uma grande dose de horror, violência, sangue e morte. Ele nos mostra os problemas e as consequências de usarmos ações disciplinares arcaicas e brutais, e que infelizmente, ao relermos setenta anos depois, percebemos que pouca coisa mudou. É uma história verídica que serviu para rever questões do sistema carcerário nos Estados Unidos e dos direitos humanos”, conta Garolli.

Nos chama atenção a cenografia. O gabinete do diretor-chefe é simples, objetivo, sem a sensação de sobrar nada. Mas a construção das celas, que é feita a partir do empilhamento de esqueletos de cadeiras, onde os atores transicionam e as transmutam conforme o desenrolar da narrativa é impactante ao olhar, em especial quando o coro de atores olham todos diretamente para a platéia. Fica nítida a crítica ao sistema carcerário que “jogam” os presidiários em espaços pequenos, apertados, desumanos.

Mas o ponto chave de todo o espetáculo é sem sombra de dúvidas o trabalho dos atores. Fabrício Pietro que vive o personagem Warden Whalen, o diretor-chefe do presídio, traz um personagem que poderia facilmente cair no estereótipo do vilão, mas Pietro constrói uma humanidade intrínseca, com nuances certeiras em todas as suas falas, que faz o público se perguntar o tempo todo “o que eu faria se estivesse no lugar dele?”, até mesmo nas ações mais cruéis da personagem. Junto com Camila dos Anjos, Fernando Vieira, Athos Magno, Simone Rebequi e Lucas Guerini, o jogo de poder que se estabelece entre os atores é tão envolvente que os 110 minutos passam quase despercebidos.

O coro, composto por outros 30 atores, traz uma plasticidade encantadora ao mesmo tempo que triste. A dualidade entre beleza estética e a conotação dos corpos enfileirados instiga a reflexão de quem assiste, instigando o questionamento: como somos afetados por essa realidade? E até que ponto afetamos a vida dessas pessoas?

Com uma proposta épica de encenação, o espetáculo é essencial para todos os amantes, estudantes e apreciadores das artes cênicas, por apresentar um show de atuações, direção concisa, iluminação e cenografia de ponta.

Em cartaz até o dia 22 de setembro, todas sextas e sábados às 21h, e domingos às 19h, na Rua Borges Lagoa, 650 – Vila Clementino e entrada franca!

AUTOR: JOHN MARQUES E Gabrielle Risso

This post was last modified on 23 de setembro de 2019 12:03

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